A caminhada da Igreja no Tempo Litúrgico

O cristianismo é uma religião histórica, e a Igreja, por essência, está enraizada na história humana. É comunidade peregrina pela história rumo ao Reino de Deus. A identidade dessa comunidade é a liberdade e a dignidade dos filhos de Deus, em cujos corações, O Espírito de Deus habita como seu templo. Sua lei é o mandamento novo: amar como o próprio Cristo nos amou (cf. Jo, 34). Seu destino é o reino de Deus, que ele mesmo começou neste mundo, e que deve ser estendido até que ele mesmo o leve também à sua perfeição.

A encarnação do Filho de Deus traz para o mundo a história de amor que Deus quer realizar com a humanidade. Na encarnação de seu Filho a história da salvação encontra seu momento decisivo. Se os tempos chegaram à plenitude pela encarnação do Filho de Deus, a Igreja, pela Páscoa de Cristo e o dom de Pentecostes, constitui o fruto dessa encarnação e o prolongamento de seus dons através dos séculos.

O ano litúrgico, constituído na história itinerária da Igreja, é graça e salvação. Ele é a celebração-atuação do mistério de Cristo no tempo. O ano litúrgico tem como missão fazer presente o mistério de Cristo no tempo humano para reproduzi-los na vida de cada pessoa. Nesse sentido, comemoram-se os mistérios da redenção. Através do ressoar da palavra divina, no Natal e na Epifania se torna presente para nós a Encarnação, na Páscoa a Paixão e glorificação do Senhor.

A igreja, constituída como corpo poderoso e deixando-se guiar pelo Espírito humano, enquanto peregrina em sua missão, cumpre seu dever de celebrar, em dias determinados, através do ano, a obra salvífica do Senhor. No círculo do ano, apresenta todo o mistério de Cristo, desde a encanação e o nascimento até a ascensão, pentecostes e a expectativa da esperança ditosa e vinda do senhor. Todas estas festas e celebrações variam ao longo do ano, dentro de um ordenamento chamado ano litúrgico.

Mas o que é o ano litúrgico?

As festas e os tempos litúrgicos não são aniversários dos fatos da vida histórica de Jesus, mas presença in mystério, isto é, na ação ritual e em todos os sinais litúrgicos da celebração. Nesta presença in mystério, as ações do verbo encarnado, são acontecimentos salvíficos (Kairoi) atuais e eficazes para os que os celebram, pois na fragilidade do tempo que voa, o nosso tempo na celebração litúrgica assume o valor de “Kairos” de espaço de salvação. Depois da gloriosa ascensão de Cristo ao céu, a obra da salvação continua através da celebração da liturgia.

O ano litúrgico tem nos atuais livros da liturgia romana, um começo (primeiro domingo do advento) e um fim (sábado posterior ao último domingo do tempo comum, ou solenidade de Cristo-Rei do Universo). É chamado como ano cristão e ano do Senhor, porque é de Cristo e a ele pertence. É também ano da Igreja ou ano eclesiástico porque a Igreja fê-lo seu para santificar o tempo e a existência humana. Assim, todo ano somos chamados a renovar nossa caminhada de Igreja, deixando o Cristo renascer em nossos corações e na vida da Igreja.

O Ano Litúrgico é também o resultado da busca do povo por uma resposta ao mistério de Jesus Cristo por meio da conversão e da fé. No fundamento do Ano Litúrgico está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus. Núcleo da pregação apostólica. É a Páscoa de Israel alcançando seu cumprimento e culminância na paixão e ressurreição de Jesus com a doação do Espírito Santo.

A festa da Páscoa é a grande festa do Ano Litúrgico. E, após a celebração anual do Mistério da Páscoa, a Igreja nada considera mais venerável do que comemorar o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações, o que se realiza no tempo do Natal.

O Ano Litúrgico começa com o chamado “Tempo do Advento”, caracterizado como o Tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens. É também o Tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Esse Tempo Litúrgico começa no domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, terminando antes das primeiras vésperas do Natal do Senhor. Os domingos deste tempo são chamados I, II, III e IV domingos do Advento.

O tempo do Natal vai das primeiras vésperas do Natal do Senhor ao domingo do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo (domingo depois do dia 6 de janeiro ou na segunda-feira seguinte, caso o domingo seja ocupado com a festa da Epifania).

Esse tempo é conhecido como o Ciclo do Natal ou Tempo do Natal. Inicia-se com a Missa da Vigília do Natal que é celebrada na noite do dia 24 de dezembro. No dia do Natal do Senhor, seguindo antiga tradição romana, pode-se celebrar a missa três vezes.

O Natal do Senhor tem a sua oitava organizada do seguinte modo:

1. No domingo dentro da oitava, ou na falta dele, no dia 30 de dezembro, celebra-se a festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.
2. No dia 26 de dezembro, celebra-se a festa de Santo Estevão.
3. No dia 27 de dezembro, celebra-se a São João, Apóstolo e Evangelista.
4. No dia 28 de dezembro, celebra-se a festa dos Santos Inocentes.
5. Nos dias 29, 30 e 31 são dias dentro da oitava.

No dia 1º de janeiro, oitavo dia do Natal, celebra-se a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na qual se comemora também a imposição do Santíssimo nome de Jesus. A Epifania do Senhor é celebrada no dia 6 de janeiro. No Brasil esse dia é celebrada no domingo entre 2 e 8 de janeiro. Na Epifania celebramos a manifestação de Deus em nossa carne humana, aos pastores (representando os pobres) e os magos do Oriente (representando as nações) No domingo depois do dia 6 de janeiro celebra-se a festa do Batismo do Senhor.

Neuza Silveira de Souza
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte